O rancho azul e branco desfilava com seus passistas vestidos
à Luís xv e sua porta-estandarte
de peruca prateada em forma de pirâmide, os cachos desabados
na
testa, a cauda do vestido de cetim arrastando-se enxovalhada
pelo asfalto. O negro
do bumbo fez uma profunda reverência diante das duas
mulheres debruçadas na
janela e prosseguiu com seu chapéu de três bicos, fazendo
rodar a capa
encharcada de suor.
— Ele gostou de você — disse a jovem voltando-se para a
mulher que ainda
aplaudia. — O cumprimento foi na sua direção, viu que
chique?
A preta deu uma risadinha.
— Meu homem é mil vezes mais bonito, pelo menos na minha
opinião. E já
deve estar chegando, ficou de me pegar às dez na esquina. Se
me atraso, ele
começa a encher a caveira e pronto, não sai mais nada.
A jovem tomou-a pelo braço e arrastou-a até a mesa de
cabeceira. O quarto
estava revolvido como se um ladrão tivesse passado por ali e
despejado caixas e
gavetas.
— Estou atrasadíssima, Lu! Essa fantasia é fogo… Tenha
paciência, mas você
vai me ajudar um pouquinho.
— Mas você ainda não acabou?
Sentando-se na cama, a jovem abriu sobre os joelhos o saiote
verde. Usava
biquíni e meias rendadas também verdes.
— Acabei o quê! Falta pregar tudo isso ainda, olha aí… Fui
inventar um raio de
pierrete dificílima!
A preta aproximou-se, alisando com as mãos o quimono de seda
brilhante.
Espetado na carapinha trazia um crisântemo de papel crepom
vermelho. Sentou-se
ao lado da moça.